segunda-feira, 29 de novembro de 2010

A hora do cansaço

As coisas que amamos,
as pessoas que amamos
são eternas até certo ponto.
Duram o infinito variável
no limite de nosso poder
de respirar a eternidade.

Pensá-las é pensar que não acabam nunca,
dar-lhes moldura de granito.
De outra matéria se tornam, absoluta,
numa outra (maior) realidade.

Começam a esmaecer quando nos cansamos,
e todos nos cansamos, por um ou outro itinerário,
de aspirar a resina do eterno.
Já não pretendemos que sejam imperecíveis.
Restituímos cada ser e coisa à condição precária,
rebaixamos o amor ao estado de utilidade.

Do sonho de eterno fica esse gozo acre
na boca ou na mente, sei lá, talvez no ar.

Carlos Drummond de Andrade

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Opus

"Posso resumir minha vida atual em uma música" que desafina nas suas cordas, ou nos seus dedos, por entre os quais meu tempo escorre dissonante. Efêmeras notas que tiro diariamente para a canção. As batidas vêm profundas, de uma bateria incontinente em ritmo indefectível, mas que acelera e descompassa no desafino - refrão. É isso. Todas as estrofes procuram seu refrão, assim como meus caminhos buscam você. Encontram, passam por, para depois voltarem, necessitados.
Nada mais meu que essas estrofes soltas. E nada tão significativo como sua parte na canção. Aquela da qual a gente logo lembra quando canta depois - "essa música não sai da cabeça" - e a quase gritamos em exaltação. Os demais pedaços são sombra, metade, coadjuvantes que só os ouvidos mais assíduos conhecem.
Se o tal resumo de vida atual acabar bem, não será numa estrofe solta, mas no refrão repetido, repetido, repetido, abaixando o volume primeiro sem perceber, depois percebemos, nos preparamos para o fim cantando. Abaixando, baixinho, até nos deixar vasculhando por uma última nota no ar. Esperando aquele verso de novo por favor, só uma vez mais. E, mesmo sem que o dueto desafinado de cordas frouxas tenha dado tão certo, ficamos cantarolando sem música no escritório, no ponto de ônibus, no chuveiro. Mas a próxima faixa quer começar a tocar.


Com muita preguiça,
Matheus Alvares - 05/11/10

terça-feira, 9 de novembro de 2010

"O MEC lanche feliz

é ótimo, sensacional.
vem sempre com uma surpresinha".

RVS

domingo, 7 de novembro de 2010

Banho maria

O meio tempo
não vemos

Faz a folha amarelar:
no caderno com a carta não enviada
no livro deixado pro dia seguinte

faz o dente amarelado,
contaminado pelo sorriso
insentido

o meio tempo te exige atitude
exige, não: pede
melhor: sugere
apenas considera
cabe nossa sensibilidade à esse cara:
ele não insiste.
mas também não deixa impune, esvai
com o beijo não dado,
o soco não levado,
a palavra não dita,
a vida não vivida.
belo clichê.

O importante é não viver a banho maria.

Matheus, 07/11/10

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Trecho

Não quero viver ofegado por mergulhos superficiais amiúdes. Em prazeres fugazes de montanhas russas. Prefiro profundidade, chegar onde não dá pé, arriscar imergir no abismo ou me sufocar até me achar morto do que for feito esse mar aqui dentro, lá fora. Para daí, depois da última gota - a que transbordar o balde ou a que secar o oceano -, descobrir que não se morre de intensidade, mas pela falta dela.
Então respirar, porque ter sossego faz um bem...

Matheus, 04/11/10

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Olha a voz que me resta
Olha a veia que salta
Olha a gota que falta
Pro desfecho da festa
Por favor...