terça-feira, 27 de maio de 2014

ALHAMBRA - Jorge Luis Borges









Grata la voz del agua
a quien abrumaron negras arenas,
grato a la mano cóncava
el mármol circular de la columna,
gratos los finos laberintos del agua
entre los limoneros,
grata la música del zéjel,
grato el amor y grata la plegaria
dirigida a un Dios que está solo,
grato el jazmín.

Vano el alfanje
ante las largas lanzas de los muchos,
vano ser el mejor.
Grato sentir o presentir, rey doliente,
que tus dulzuras son adioses,
que te será negada la llave,
que la cruz del infiel borrará la luna,
que la tarde que miras es la última.

Granada, 1976.


A luminosidade de Granada percebida por meio de outros sentidos no poema escrito por Jorge Luis Borges quando, cego há já mais de 20 anos, volta a estar na cidade, desta vez com sua companheira Maria Kodama. Borges havia visitado Granada quando adolescente, com seus pais, havendo, como não é de se suspeitar, se apaixonado pelo lugar.
Conta Maria que "a impaciência com que Borges se preparava aquela manhã para a visita à Alhambra, antecipando-a das maravilhas das quais recordava bem e que ela ainda não havia visto, o deixava tão encantado por voltar e mostrá-las que até se esqueceu que estava cego."
Maria Kodama conta também do incômodo que ela sentiu ao cruzar uma das portas da Alhambra e ler uma placa de cerâmica com a escritura de versos de Francisco A. de Icaza:

"Dale limosna, mujer
Que no hay en la vida nada
como la pena de ser
ciego en Granada."

Borges, ao notar, a tranquilizou dizendo:
"Não se sinta mal. Você me apresentará a Alhambra com os olhos de outro Oriente." (fazendo alusão à descendência japonesa de Kodama).

O poema parece remeter ainda à última tarde do rei Boabdil na cidade de Granada, que, perdida, deve entregá-la aos reis cristianos.

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