quinta-feira, 16 de junho de 2011

ruim

To numa vibe de relembrar amores mal acabados. Não que exista no meu mundo algum amor assim, bem acabado como uma pintura que a gente emoldura e pendura com algum orgulho na parede do corredor por onde passa diariamente e dá bom dia com ânimo. Não que no meu mundo se dê bom dia com algum ânimo. Pelo menos não nos dias destas recordações. A gente se revira sem força no cobertor, distorce o passado e pensa que podia tudo ter ficado bonito e promissor como o início do quadro. Mas a tinta borrada que surge é a parte que mais aparece, até transcende como uma ferida, e dói.
Claro, nem sempre é o borrão que acaba com o quadro. Às vezes a gente começa a pintar torto, de perto não percebe, só quando vê que não tem mais como acertar tanto erro. E aí ou assume o quadro assim ou deixa ele pra recomeçar. Às vezes fica até bom, o erro.
Tem tb os quadros que perdem a graça no meio da pintura e ficam assim inacabados, completados pelo branco de vazio e de paz.
Não falei ainda dos que a gente largou mas quer retomar pra, dessa vez, caprichar nos tons. Só que essas coisas não costumam se pintar a apenas duas mãos. São ao menos quatro e, por trás das mãos tem seus autores, depois o que eles querem e o que podem, e o que pensam, suas vivências e como percebem aquilo tudo. Queremos saber se tem parceria na composição de uma obra até ficar subjetivamente legal. Mas a gente nunca sabe.

É capaz que a qualquer hora ele termine.


"As coisas que não conseguem ser
olvidadas continuam acontecendo.
Sentimo-las como da primeira vez,
sentimo-las fora do tempo,
nesse mundo do sempre onde as
datas não datam. Só no mundo do nunca
existem lápides... Que importa se –
depois de tudo – tenha "ela" partido,
casado, mudado, sumido, esquecido,
enganado, ou que quer que te haja
feito, em suma? Tiveste uma parte da
sua vida que foi só tua e, esta, ela
jamais a poderá passar de ti para ninguém.
Há bens inalienáveis, há certos momentos que,
ao contrário do que pensas,
fazem parte da tua vida presente
e não do teu passado. E abrem-se no teu
sorriso mesmo quando, deslembrado deles,
estiveres sorrindo a outras coisas.
Ah, nem queiras saber o quanto
deves à ingrata criatura...
A thing of beauty is a joy for ever
disse, há cento e muitos anos, um poeta
inglês que não conseguiu morrer."

Mário Quintana

Um comentário:

  1. Que importa que só restaram cinzas, se foram belas as chamas? (ou algo parecido)
    Também Mário Quintana.

    Outra reflexão: existe no mundo amor bem-acabado? A gente pode desistir no meio sim, mas acho que a gente nunca conclui a obra. O amor está constantemente em construção, é uma tela que está sempre sendo refeita. A gente pinta, borra, limpa, pinta de novo, apaga, começa do zero, vai pintando, aprimorando, acrescentando novos elementos, tirando outros, infinitamente, sem acabar, só continuando, sem ponto final, só vírgulas e reticências...

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